quinta-feira, 3 de março de 2011

Os gatos da tinturaria



Os gatos brancos, descoloridos,
passeiam pela tinturaria,
miram polícromos vestidos.
Com soberana melancolia,
brota nos seus olhos erguidos
o arco-íris, resumo do dia,
ressuscitando dos seus olvidos,
onde apagado cada um jazia,
abstratos lumes sucumbidos.
No vasto chão da tinturaria,
xadrez sem fim, por onde os ruídos
atropelam a geometria,
os grandes gatos abrem compridos
bocejos, na dispersão vazia
da voz feita para gemidos.
E assim proclamam a monarquia
da renúncia, e, tranqüilos vencidos,
dormem seu tempo de agonia.
Olham ainda para os vestidos,
mas baixam a pálpebra fria.

Cecília Meireles









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