sexta-feira, 23 de julho de 2010

Viver como a Flores


O discípulo, a seu mestre espiritual:
- Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes. Sinto ódio das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam.
- Pois viva como as flores! - advertiu o mestre.
- Como é viver como as flores? - perguntou o discípulo.
- Repare nestas flores - continuou o mestre, apontando os lírios que cresciam no jardim - Elas nascem no esterco. Entretanto, são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas.
E o mestre conclui seu pensamento:
- É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.

(Autor desconhecido)

P.S:  recebi esse texto de uma amiga muito querida... Sandrinha, obrigada!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Poema para o Sol

Sonho de um sonho ausente
Sonho que queima o meu ser
És tão doce
És tão gente
Tu meu sol
Tu meu presente
Tu meu sonho
Tu meu querer

De todos os amores que tive
Das juras de amor que troquei
Dos sorrisos e das lágrimas,
Perdi as contas,
Nem sei ….
Nos tropeços desta vida
Foram muitos os que me amaram
E nem tantos os que eu amei

Porém tu,
Meu anjo dourado
Tu que nunca me tocastes
Tu que só em sonho eu toquei
Tu és de todos o mais amado
Só tu tens o meu coração
Só tu realmente eu amei ….

(Célia Pedroso)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

As Formas do Barro


Eu trago as formas do barro
esculpidas em minhas mãos:
o cheiro molhado de argila
umedece as minhas palavras
e o sol que vem do passado
revela um segredo guardado.

A mão cumpre o risco no ar
e os dedos beneficiam a argila,
mergulhando no gesto vertical.
A esquerda recebe a dádiva
e juntas compartilham o corpo
medido em areia, argila e água.

O verbo nas mãos se enconcha,
se eleva, beija o ar em curva,
e sobre o vazio da forma passa
contra a madeira sem reclame.
A direita alça o arco de arame
e as aparas se despem da massa.

Assim se repete a procura
em novo bolo que se enforma:
vira-se a forma sobre a mesa
de trabalho do artesão,
e feito o asseio de areia,
dois poemas brotam no chão.

De dois em dois, em soma de pares
os montes de argila se multiplicam.
E o oleiro, sem que se repare,
contempla as paredes do futuro,
que hoje, por certo, ainda abrigam
os seus sonhos riscados num muro.

(Aleilton Fonseca)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Vozes do Mar


Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...

Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias?Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz,ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

(Florbela Espanca}

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Quarto Motivo da Rosa


Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles