quinta-feira, 29 de março de 2012

O rio e o mar - Osho

Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo.

Olha para trás,
para toda a jornada,
os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso
através das florestas,
através dos povoados,
e vê à sua frente um oceano tão vasto
que entrar nele nada mais é
do que desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.

Porque, apenas então,
o rio saberá que não se trata
de desaparecer no oceano.
Mas tornar-se oceano,
Por um lado é e
desaparecimento
por outro lado é renascimento.

(Osho)    
             
Japaratinga - AL
Praia do Pontal, um encontro do mar com o Rio Manguaba   

quarta-feira, 28 de março de 2012

Em Voz Baixa

Sempre que me vou embora
é com silêncio maior.
As solidões deste mundo
conheço-as todas de cor.
Desse-me a sorte um cavalo,
ou um barco em cima do mar!
Relinclo ou marulho_alguma
coisa que me acompanhar!
Mas não. Sempre mais comigo
vou levando os passos meus,
até me perder de todo
no indeterminado Deus.


(Cecília Meireles)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pedaços de mulher

Quantos pedaços formam uma mulher? Tantos que ela vive inacabada.
Nossos pedaços custam a se encaixar. O epicentro do quebra-cabeça costuma ser a maternidade, um pedaço grande que precisa combinar com o pedaço da luxúria, com o pedaço da solidão e também com aquela partezinha da preguiça, que ninguém avisou que fazia parte do jogo.
Há peças variadas, que vistas separadamente, não têm nada a ver uma com a outra, mas juntas fazem o shazam. O pedaço da submissão que precisava encaixar com o pedaço da rebeldia, o pedaço da juventude que tem que encaixar com o pedaço da menopausa, um pedaço desgarrado que tem que encaixar com o imenso pedaço da nossa árvore genealógica, e vários outros pedaços aparentemente sem combinação: nossa parte homem, nossa parte criança, nossa parte louca, nossa parte santa, nossa parte lúcida, nossa parte conveniente, nossa parte viciada, e mais aquelas desgastadas pelo uso, e umas que se perderam, e outras tão pequenas que ficaram invisíveis. Como encaixar o que não se revela nem para nós mesmas?
Almadôvar filma as mulheres como se elas fossem pizzas de vários sabores. Mezzo freiras, mezzo HIV positivas. Mezzo doces, mezzo apimentadas. Mezzo dramáticas, mezzo divertidas. Almadôvar nunca fecha o quebra cabeça, apenas esparrama na tela os vários pedaços que, unidos, nos transformariam num ser único, e que, uma vez pronto, já não empolgariam ninguém.Daí a importância se haver sempre uma peça faltando, pois é isso que nos mantém acordados, assim no cinema como na vida.

(Martha Medeiros)

8 de março - Dia Internacional da Mulher