quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Teu Riso


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.


À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


(Pablo Neruda)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnaval – Cecilia Meireles


Com os teus dedos feitos de tempo silencioso,
Modela a minha mascara, modela-a…
E veste-me essas roupas encantadas
Com que tu mesmo te escondes, ó oculto!

Põe nos meus lábios essa voz
Que só constrói perguntas,
E, à aparência com que me encobrires,
Dá um nome rápido, que se possa logo esquecer…


Eu irei pelas tuas ruas,
Cantando e dançando…
E lá, onde ninguém se reconhece,
Ninguém saberá quem sou,
À luz do teu Carnaval…

Modela a minha mascara!
Veste-me essas roupas!

Mas deixa na minha voz a eternidade
Dos teus dedos de silencioso tempo…
Mas deixa nas minhas roupas a saudade da tua forma…
E põe na minha dança o teu ritmo,
Para me conduzir…

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A flor e o ar - Cecília Meireles

A flor e o ar

A flor que atiraste agora,
quisera trazê-la ao peito;
mas não há tempo nem jeito...
Adeus, que me vou embora.

Sou dançarina do arame,
não tenho mão para flor:
Pergunto, ao pensar no amor,
como é possível que se ame.

Arame e seda, percorro
o fio do tempo liso.
E nem sei do que preciso,
de tão depressa que morro.

Neste destino a que vim,
tudo é longe, tudo é alheio.
Pulsa o coração no meio
só para marcar um fim.

Anjo Da Guarda - Engenheiros Do Hawaii

Sem que você saiba
Há um anjo que te guarda
Ele guarda os segredos
Da cura e proteção

Um Anjo caído
Procura alguém pra guardar
E dança um tango
Sem par e sem parar

Sem que você peça
Sempre haverá
Abrigo pro frio do inverno
A brisa na febre do verão

Quem salva quer salvação
Canta só pra ouvir a canção
Procura como um louco procura
A própria cura

De bar em bar em bar
Afim de encontrar
Abrigo pro frio do inverno
A brisa na febre do verão

Quem salva quer salvação
Canta só pra ouvir a canção
Procura como um louco procura
A própria cura

Anjo da Guarda ajuda-me
Anjo da Guarda ajuda