domingo, 20 de fevereiro de 2011
Do Falar Poesia - 104
Bati com o pé no deserto
e não nasceu uma fonte…
Toquei numa rocha
e não se cobriu de açucenas…
Beijei uma árvore
e o enforcado não ressuscitou…
Amaldiçoei a paisagem
e não secaram as raízes…
Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta?
(Os santos são mais felizes.)
José Gomes Ferreira
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Simples...
Simples...
Abrir a janela,
Olhar para o sol,
O cheiro da terra,
A beleza da flor...
Simples...
Sentar na varanda,
Um livro nas mãos,
O embalo da rede,
Preguiça gostosa,
Paz no coração...
Simples...
Cheirinho de bolo,
Saindo do forno.
Café bem quentinho,
Amor e carinho,
É tudo de bom...
Simples...
Um sorriso carinhoso,
Um beijo no rosto,
Abraço apertado,
Um carinho, afago,
De quem nos quer bem...
O simples...
É tão simples,
Que poucas pessoas,
Conseguem entender,
Que não é nada simples
E quanto é valioso
O simples que tem...
(Elke Franzeck)
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Ser Livre
Nas asas do sonho
Me escondo
À procura do meu SER…
Não tenho pouso.
Nem vida.
Vivo para me entender…
Quero voar
Até perto do INFINITO
Descobrir-me nas asas do SOFRER…
Sentir a magia da VIDA
E colher uma planta do Saber...
E ser “LIVRE” até morrer…
S.C
Solidão
Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas,
pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
O Nó
Existia um nó,
muito apertado,
que enlaçava a vida,
a minha vida!
Desfeito o nó,
respiro a vida
com outro fôlego,
com outro olhar,
sorriso aberto,
coração renovado!
Com nó
ou sem nó,
mantive princípios,
sentimentos
e o amor,
amor intocável!
Existem nós
que asfixiam,
mas não matam!
( José Manuel Brazão)
muito apertado,
que enlaçava a vida,
a minha vida!
Desfeito o nó,
respiro a vida
com outro fôlego,
com outro olhar,
sorriso aberto,
coração renovado!
Com nó
ou sem nó,
mantive princípios,
sentimentos
e o amor,
amor intocável!
Existem nós
que asfixiam,
mas não matam!
( José Manuel Brazão)
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Recordação
Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.
Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.
As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exalação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.
E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.
Restituiu-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha
- e incompreensíveis, incompreensíveis.
Cecília Meireles
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Cantiga Outonal
Outono. As árvores pensando ...
Tristezas mórbidas no mar ...
O vento passa, brando ... brando ...
E sinto medo, susto, quando
Escuto o vento assim passar ...
Outono. Eu tenho a alma coberta
De folhas mortas, em que o luar
Chora, alta noite, na deserta
Quietude triste da hora incerta
Que cai do tempo, devagar ...
Outono. E quando o vento agita,
Agita os galhos negros, no ar,
Minha alma sofre e põe-se aflita,
Na inconsolável, na infinita
Pena de ter de se esfolhar ...
Cecília Meireles
Tristezas mórbidas no mar ...
O vento passa, brando ... brando ...
E sinto medo, susto, quando
Escuto o vento assim passar ...
Outono. Eu tenho a alma coberta
De folhas mortas, em que o luar
Chora, alta noite, na deserta
Quietude triste da hora incerta
Que cai do tempo, devagar ...
Outono. E quando o vento agita,
Agita os galhos negros, no ar,
Minha alma sofre e põe-se aflita,
Na inconsolável, na infinita
Pena de ter de se esfolhar ...
Cecília Meireles
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Meus Olhos
Quisera que meus olhos fossem duros e frios
e que ferissem fudo dentro do coração
e que nada expressassem dos meus sonhos vazios,
fosse esperança ou ilusão.
Indecifráveis sempre a todos os profanos
do fundo e suave azul da tranqüilidade safira,
incapazes de ver os pesares humanos
ou a alegria do viver.
No entanto estes meus olhos são cândidos e tristes,
não como eu os desejo nem como devem ser.
É que estes olhos meus é o coração que os veste
e seu desgosto fá-los ver.
Pablo Neruda
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